Horto de incĂȘndio

Al Berto
4.34
532 ratings 38 reviews
Entrevista a Al Berto, a propĂłsito da edição de Horto de IncĂȘndio, a Manuel HermĂ­nio Monteiro. Em Março de 1997, o editor Manuel HermĂ­nio Monteiro entrevista o poeta Al Berto, a propĂłsito da edição daquele que viria a ser o seu Ășltimo livro de poemas originais publicado, Horto de IncĂȘndio. O poeta faleceria em Julho desse ano. Esta curta entrevista, com um evidente carĂĄcter de urgĂȘncia, foi feita como complemento do seu Ășltimo livro Horto de IncĂȘndio. NĂŁo esperava tanta brevidade nas respostas. Hoje, parece-me, faz todo o sentido. Como julgo natural que a grande maioria dos leitores de Al Berto sejam jovens que viam nele a intensidade chispante de um cantor rock deambulando pelas noites de Lisboa com uma disponibilidade de diĂĄlogo e de corpo inexcedĂ­veis. Por isso se nos torna difĂ­cil ver uma Lisboa tardia sem a sua presença, o seu sorriso e as suas histĂłrias envolventes. Sem os seus textos para os catĂĄlogos de artistas amigos. As inĂșmeras leituras pĂșblicas sempre repletas de gente jovem, que acorria para ouvir o homem a quem «crescera uma pĂ©rola no coração». Mas quem melhor o conhecia era o mar e os barcos que «faziam escala Ă  sua porta». Outubro de 1997 1 – HĂĄ bastante tempo que nĂŁo publicavas e no entanto este livro, atĂ© pelo tĂ­tulo, tem um carĂĄcter de urgĂȘncia. PorquĂȘ? Telegrama 1: Todos os meus livros tiveram sempre um carĂĄcter de urgĂȘncia. Porque ao terminar um livro nunca tive a certeza que um outro se seguisse. Cada um deles estĂĄ intrinsecamente ligado a um momento da minha vida. A vida e os livros acontecem
 Stop. 2 – HĂĄ os poemas «inferno», «sida», «febre», «fantasma», «senhor da asma». É um livro triste, trĂĄgico quase apocalĂ­ptico? Telegrama 2: NĂŁo podia ser de outra maneira. Veja-se os tempos que correm, tempos de manipulação e de enxertia, tempos de metamorfose maligna e hipocrisia. JĂĄ nĂŁo hĂĄ cidadĂŁos, mas contribuintes – o que quer dizer que o corpo foi substituĂ­do por uma sĂ©rie de algarismos. Stop. 3 – A segunda parte, «Morte de Rimbaud» foi dito em voz alta no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Ao escreveres existe alguma vontade de que as tuas palavras sejam para ser ditas em voz alta? Telegrama 3: Sempre defendi a oralidade. É uma tradição da poesia portuguesa. NĂŁo publico poemas sem os lerem voz alta muitas vezes. «Morte de Rimbaud» foi escrito propositadamente para o espectĂĄculo Filhos de Rimbaud e para ser dito em voz alta. Tentei ser claro. Stop. 4 – Coloquiais e Ă­ntimos, poemas como pequenos segredos ou conversas afectivas. Esta tua poesia parece nascer da necessidade de uma confidĂȘncia. A poesia Ă© feita para todos? Telegrama 4: Se calhar Ă© porque toda a minha escrita Ă© um dialogo comigo mesmo
 Uma viagem em direcção ao silĂȘncio. NĂŁo sei
 NĂŁo. A poesia nĂŁo Ă© feita para ninguĂ©m em especial, mas uma vez publicada Ă© para quem a lĂȘ. Talvez este livro seja um livro para ler tambĂ©m em voz alta. Stop. 5 – O que Ă© que a tua vida deve Ă  poesia? Telegrama 5: A poesia tem-me levado ao despojamento daquilo que Ă© lixo e me atrapalha a vida. Cada vez mais me parece que a poesia Ă© a Ășnica linguagem capaz de atingir o rosto de um deus e feri-lo moralmente, nem que fosse por um milĂ©simo de segundo. Stop. In Hablar / Falar de Poesia, n.Âș 1, 1997
Genres: PoetryPortugalPortuguese LiteratureLGBTQueer
78 Pages

Community Reviews:

5 star
252 (47%)
4 star
215 (40%)
3 star
59 (11%)
2 star
6 (1%)
1 star
0 (0%)

Readers also enjoyed

Other books by Al Berto

Lists with this book

SubĂșrbios de Veneza
Poetry in a time of Pestilence: Perspectives on a Pandemic
Aves de IncĂȘndio
My poets
21 books ‱ 2 voters