Contos da Ilha e do Continente
LĂșcio Cardoso No ano de comemoração do centenĂĄrio de nascimento de LĂșcio Cardoso, a pesquisadora e editora ValĂ©ria Lamego oferece aos leitores e admiradores da obra do autor mineiro esta joia rara â Contos da ilha e do continente. A organização e a edição deste livro sĂŁo o resultado da longa e dedicada pesquisa que ValĂ©ria vem fazendo ao longo dos Ășltimos anos sobre a produção literĂĄria de LĂșcio, que, diga-se de passagem, Ă© extremamente significativa em termos de qualidade e quantidade.
Do lançamento do seu primeiro livro, Maleita, em 1934, atĂ© os seus Ășltimos escritos, LĂșcio se firmou como um escritor angustiado e obsessivo, tomado pela fĂșria da escrita e pela vontade de revelar os trĂĄgicos e perturbadores paradoxos da existĂȘncia. Os 26 contos e uma novela aqui reunidos foram selecionados a partir de critĂ©rios explicitados na necessĂĄria e bem estruturada apresentação que introduz os textos.
O conto nunca foi a prioridade de LĂșcio, muito pelo contrĂĄrio. Nem a poesia. O romance sempre foi a sua grande obsessĂŁo e, por que nĂŁo dizer, de todos os prosadores de sua geração. Mesmo assim, o mĂ©todo todo especial e particular de conceber, construir e refazer contos ressalta a importĂąncia e a qualidade dos textos que estĂŁo nesta obra se pensarmos o conjunto da produção do autor de CrĂŽnica da casa assassinada. DaĂ a enorme importĂąncia que Contos da ilha e do continente passa a ter na leitura e entendimento do universo cardosiano. Como afirma ValĂ©ria Lamego, âdo encontro do natural com o sobrenatural, do ambiente externo e interno, das relaçÔes familiares, dos ambientes residenciais burgueses, do choque entre a vida Ăntima e o mundo externo da natureza, do som do mar, do cheiro de sangue da maresia, e das nuvens, Ă© gerada uma polifonia de sentidos raraâ.
Esta pluralidade de vozes, esta multiplicidade de olhares sobre o humano, a paisagem, a morte, a loucura, a ĂĄgua e as ruĂnas, constituem em Ășltima anĂĄlise a matĂ©ria prima e Ășnica dos 27 textos que formam esta obra. LĂșcio, o homem-ilha de Curvelo, interior das Geraes, estendeu estradas e pontes que aproximaram e refundaram continentes urbanos do Rio de Janeiro, seu porto (in)seguro, no corpo dos territĂłrios insondĂĄveis e fantĂĄsticos da linguagem.
- JĂșlio Diniz, pesquisador, ensaĂsta e professor da PUC-Rio
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252 Pages