Ferreira de Castro No seu livro Eternidade, com a força e o deslumbramento que vem do coração e dos sentidos, Ferreira de Castro descreveu o fantástico mundo do Arquipélago da Madeira nos anos trinta do século XX. Mas, antes de relatar a Ilha com alguma minúcia, profundamente deprimido pela morte da sua companheira Diana de Liz, desferiu no pórtico de Eternidade, um sentido grito contra a vida do Homem, que mesmo usufruindo a magia duma terra tão bela quanto a Madeira, tem vivido permanentemente esmagado por opressões, renúncias e misérias, e atribulado pelo constante temor da doença e da morte.
Rui Nepomuceno, 2010
http://ruinepomuceno.blogspot.pt/2010/02/madeira-na-obra-de-ferreira-de-castro.html
Eu sei que quando a Humanidade se encontrar dividida em duas épocas distintas - a que obedecia, mísera, efémera, desgraçada, à lei da morte e a que sobre essa lei triunfou - tu, meu irmão, estarás tão longe de nós e serás tão diferente, que até estas inumeráveis vidas que têm morrido não querendo morrer, parecer-te-ão lendárias, mesquinhas, tristes coisas que não se pertenciam, rebanho de sombras que cobria, inutilmente o planeta inteiro. Então, todos os séculos que já vivemos e que viveremos ainda sob o despotismo da morte, a odiarmo-nos uns aos outros, a massacrarmo-nos uns aos outros, a expoliarmo-nos uns aos outros, parecer-te-ão a ti que triunfaste da morte, e dos instintos, que és inteligência e não paixão, compreensão e não ressentimento, uma vasta, sombria e muda planície.
Ferreira de Castro, «Pórtico», Eternidade, 1933
http://www.ceferreiradecastro.org/?id=2.2.1.7.2
Genres:
Romance
231 Pages